Família, amigos, finanças, lazer, estudos, trabalho são pilares tão interligados em nossa vida, que dificilmente conseguimos evitar o conflito entre eles. Mas afinal, é possível separar a vida pessoal da profissional? A especialista em Gestão de Pessoas, Vania Ferrari, garante que não. “Alma e corpo são indissociáveis, assim como questões pessoais e profissionais. Sempre que um colaborador está com alguma dificuldade no trabalho, ele a leva para casa e vice-versa”, afirma a especialista que gerencia a plataforma Pensamentos Transformadores voltada a assuntos gerenciais e de pessoas.
A dificuldade em manter-se focado no trabalho quando há preocupação com problemas pessoais pode gerar queda na produtividade. E, quando isso ocorre é essencial informar o seu líder direto, conforme orienta a especialista Vania. “Vivemos na era da transparência e isso também vale para as relações de trabalho. Muitas empresas já oferecem apoio jurídico, psicológico, médico e financeiro para seus colaboradores e até familiares. E esta prática deve ser adotada cada vez mais, pois significa melhoria nos resultados, além disso é uma questão humana”, afirma Vania.
O professor Roberto Bortolan, que atua na gestão estratégica de processos e pessoas, afirma que a indiferença do gestor poderá afetar ainda mais o problema do colaborador e comprometer os objetivos organizacionais. “Da mesma forma que a empresa espera o comprometimento e cobra resultados do colaborador, este espera o entendimento quando os problemas pessoais se afloram, já que não existe a possibilidade de deixar o problema na porta da empresa no início de sua jornada e apanhá-lo no seu término”, afirma.
E na hora da contratação é que muitos aspectos podem ser notados. Segundo Vânia, há técnicas que permitem fazer uma avaliação da saúde emocional do candidato como o psicológico, dinâmica de grupo, entrevista em profundidade, garantindo que várias pessoas possam dar a sua opinião sobre o entrevistado antes da contratação. “Devemos ser demorados para contratar e rápidos para demitir, e não o contrário”, alerta.
Quando o trabalho vai para casa
Por outro lado, muitos profissionais, especialmente os viciados em trabalho (workaholics), também fazem o inverso. Mesmo sem se enquadrarem nas novas modalidades de trabalho, como o home office e o teletrabalho, eles levam atividades para casa e isso afeta sua vida pessoal.
Quando se trata do Brasil, os dados são alarmantes. Uma pesquisa feita pelo Instituto Apsos revelou que os brasileiros são os que mais misturam vida pessoal com a profissional. 74% deles carregam seus computadores, smartphones e tablets durante as férias ou fins de semana para o trabalho contra 47% dos britânicos ou 50% dos alemães. Essa prática gera, na maioria dos casos, estresse e desconforto já que os profissionais não conseguem desligar-se das rotinas empresariais em períodos de lazer, além de possível queda na produtividade, pois o exagero pode acumular cansaço, afetando a saúde dos profissionais. Além disso, brasileiros e chineses são os que menos veem problema em usar os dispositivos para fins pessoais e profissionais.
Inteligência relacional
E por isso, a humanização e as relações tornam-se ainda mais importantes, o que faz com que especialistas definam esta como a era da inteligência relacional. Roberto Bortolan concorda com a definição. “Com o avanço da tecnologia, as relações humanas estão ficando cada vez mais frias e isoladas. O virtual passou a ter presença marcante nos relacionamentos. Basta você ir a um restaurante para ver que o diálogo está perdendo espaço para os celulares”, contextualiza o professor. “Precisamos ser inteligentes para utilizar nossa capacidade social, de entender o outro - como eu entendo a mim, utilizar da competência de empatia e de outras mais, para que realmente possamos afirmar nossa condição humana”, coloca.
Inteligência emocional
Vânia Ferrari garante que nunca se precisou tanto de inteligência emocional como no século XXI, com as pessoas buscando remédios na tentativa de resolver problemas que os afetam. “Tudo vira gastrite, úlcera ou doenças mais graves. A inteligência emocional te ajuda a nominar seus sentimentos e a agir com sabedoria, ao invés de reagir agressivamente a qualquer frustração”, aposta.