Duas semanas após o anúncio de transferência de dinheiro entre usuários do WhatsApp, o Facebook, dono do aplicativo, voltou a se reunir com o BC (Banco Central) para negociar a liberação do P2M, sigla para pagamento entre pessoas e empresas.
Nesta segunda-feira (17), representantes das áreas de política, estratégia, produto e pagamento da big tech participaram de duas videoconferências com a autoridade monetária. William Cathcart, presidente global do WhatsApp, reuniu-se com o presidente do BC, Roberto Campos Neto. Matthew Idema, chefe operações do aplicativo, encontrou-se com João Manoel de Mello, diretor de organização do sistema financeiro.
Procurado, o WhatsApp diz que não há previsão para o lançamento do novo recurso.
Barrado no ano passado pelo BC, o pagamento pelo aplicativo é um pleito da empresa para garantir a transação entre pessoas físicas e comerciantes, em especial pequenos lojistas, que passaram a usar a plataforma de mensagens para vender produtos e entrar em contato com os clientes durante a pandemia.
Segundo o Facebook, mais de 175 milhões de pessoas usam o WhatsApp diariamente para enviar mensagens a marcas. O Brasil é o segundo maior mercado para o aplicativo, com 120 milhões de usuários, apenas atrás da Índia, que tem 400 milhões.
Quando anunciou o recurso, há cerca de um ano, a estratégia do WhatsApp era cobrar uma taxa de 3,99% do comerciante a cada transação financeira. É provável que o aplicativo mantenha o plano de pedir uma comissão por compra —criando uma frente para a monetização do app, que é gratuito e não tem anúncios como as redes sociais Facebook e o Instagram.
Assim como a transferência entre usuários, o pagamento entre clientes e empresas seria triangulado com o Facebook Pay (recurso de pagamentos do Facebook) e a Cielo, processadora das transações. Paulo Caffarelli, presidente da Cielo, já fez declarações indicando que a liberação deveria ocorrer neste ano.
O processo de autorização de pagamentos por meio do WhatsApp é examinado pelo BC há mais de um ano. Em junho, o BC e o Cade travaram a liberação. O argumento era que se tratava de um aplicativo de alto alcance, com grande número de usuários, e por isso precisaria passar por processo de autorização.
Houve especulação no mercado de que o BC teria acatado uma reclamação dos grandes bancos privados sobre a solução e, ainda, barrado o serviço para proteger o Pix, sistema de pagamentos instantâneos da autoridade monetária que foi lançado depois, em novembro de 2020. A autoridade monetária negou.
Na época, os chamados arranjos de pagamentos só precisavam do aval do BC se tivessem volume de movimentação superior a R$ 500 milhões por ano. Em abril deste ano e o valor passou para R$ 2 bilhões.
Em março, quando foi liberada a transferência de dinheiro entre pessoas, a autoridade monetária informou que o aval para os usuários façam pagamentos pelo WhatsApp seguia em análise.
"As autorizações de hoje não incluem os pleitos da Visa e da Mastercard para funcionamento dos arranjos de compra vinculados ao Programa Facebook Pay, que seguem em análise no BC", afirmou a autarquia à época, em nota.
O BC autorizou transferências bancárias entre usuários do aplicativo após nove meses de tratativas. Para liberar o serviço, a instituição incluiu o Facebook na categoria de iniciador de transações de pagamentos, uma espécie de instituição de pagamentos, que permite o repasse de dinheiro entre CPFs.