Praticamente metade (48%) dos gastos das famílias brasileiras em 2020 foram pagos com cartões de crédito, débito ou pré-pagos, estima a Abecs (Associação Brasileira das Empresas de Cartões de Crédito e Serviços).
O número responde por um crescimento de 16,3% em relação ao observado no ano anterior. Para 2022, a associação espera que esse percentual chegue a 60%.
Segundo o presidente da Abecs, Pedro Coutinho, apesar de a indústria de cartões ter sido impactada pela pandemia do coronavírus no ano passado, o segmento cresceu 8% em relação a 2019.
“O crescimento que vimos no ecommerce mostrou que as pessoas se adaptaram melhor ao pagamento por aproximação, por exemplo. Esse movimento deve se intensificar ainda mais com a chegada do Pix e a velocidade de digitalização dos meios de pagamentos”, afirmou o executivo.
Para 2021, afirma Coutinho, a expectativa é de um novo salto no setor, com um crescimento entre 18% e 21%.
Um levantamento de dezembro, feito pela Câmara Brasileira da Economia Digital em parceria com a Neotrust, apontou que o faturamento do ecommerce mais do que dobrou entre janeiro e novembro de 2020 em relação a igual período do ano anterior.
Segundo o estudo, foram movimentados R$ 115,3 bilhões no período, impulsionados pelas gigantes de ecommerce –que responderam por 86% do mercado no terceiro trimestre do ano passado.
Os sinais também são positivos para este ano. Segundo o relatório Global Outlook 2021, da Mastercard, a expectativa é que de 20% a 30% das operações que migraram das lojas físicas para o meio digital durante o isolamento social continuem permanentemente no ecommerce quando o surto chegar ao fim.
Para o presidente da Mastercard, João Pedro Paro Neto, ainda que o país já tenha começado o cronograma de vacinação da população contra a Covid-19 e que já exista a discussão sobre a reabertura da economia e das lojas físicas, o pagamento por meios digitais foi uma mudança definitiva por parte da população.
“Nós ainda vamos viver esse cenário de pandemia por um tempo, e passar de dois ou três anos em uma nova realidade, que ainda conta com distanciamento, vai mudar o hábito de pagamento das pessoas. A preferência será por compras online e pelo cartão não-presente [pagamentos nos quais não é necessário o cartão físico]”, disse Paro Neto.
Outros fatores, como o maior limite de pagamento por aproximação sem a necessidade de senha, também devem dar fôlego ao segmento.
A decisão de subir o valor de R$ 100 para R$ 200 nesse tipo de pagamento foi aprovado pela diretoria da Abecs em dezembro e entrou em vigor neste mês. A associação já havia aumentado esse limite de R$ 50 para R$ 100 em julho.
Com a mudança, a modalidade de pagamentos por aproximação –conhecida pelo mercado como “contactless”– passou a englobar os valores gastos em 80% das transações feitas com cartões.
Segundo o vice-presidente de soluções e inovação da Visa Brasil, Percival Jatobá, o movimento de digitalização dos pagamentos vem na esteira do maior número de marketplaces e do crescente uso do débito online.
“Isso começa a trazer um novo conceito de conexão entre redes, o que significa que toda a indústria está conectada e coexiste em diversos ambientes. Do ponto de vista de pagamentos, isso é absolutamente poderoso”, afirmou Jatobá.
Segundos os executivos, a disseminação dos pagamentos digitais acaba trazendo a necessidade de atenção em relação à segurança.
“Nós temos uma indústria bem estruturada, mas segurança é um investimento recorrente. Um dos principais projetos que temos é o 3DS 2.0., que trouxe a tockenização [proteção dos dados por criptografia] do mundo do ecommerce para garantir que o consumidor esteja seguro em todas as transações”, disse Coutinho, da Abecs.
O 3DS 2.0. é uma atualização do protocolo de segurança para transações financeiras feitas no mundo online. Ao contrário da versão anterior, esse novo protocolo tem origem no sistema mobile, possibilitando a proteção do consumidor em qualquer canal de compra online.
Além disso, esse novo modelo fornece dez vezes mais dados durante a comunicação entre o cartão, o estabelecimento comercial e o emissor. O recurso visa garantir a verificação da identidade do portador de maneira mais assertiva, evitando fraudes.
“A indústria tem se movimentado para tornar as compras online cada vez mais seguras. Na medida em que a gente investe em autenticação, gera mais confiança e segurança para o comércio eletrônico. É um ciclo virtuoso”, disse Jatobá.