A necessidade de afastamento dos funcionários do trabalho por causa do aumento de casos da Ômicron, a nova variante do coronavírus que causou uma nova onda de Covid-19 no início deste ano, está reduzindo a produtividade em fábricas e atrasando entregas.
As empresas são obrigadas a fazer remanejamentos nas escalas para minimizar os prejuízos. Esse quebra-cabeças, que inclui contratações extras, despesas com deslocamento e até mesmo suspensão de serviços, custa caro às empresas.
Um exemplo é o da construtora Metrô, especializada em obras de saneamento. Embora sediada em Maringá, atende todo o Paraná. Já chegou a ficar com 15% da equipe de 60 pessoas afastada.
Para não atrasar as obras, o diretor de Construção Civil, Marcos Araujo, conta que às vezes tem que disponibilizar transporte e alojamento ou hotel para levar os profissionais de uma obra em cidade a outra. Quando não é possível, porque a função exige uma especialidade, a obra reduz o ritmo.
— Tudo isso gera custos extras e a logística é difícil — explica Araujo. — A Covid está gerando queda na produtividade não só da equipe, como dos fornecedores que estão tendo baixas, e isso afeta o abastecimento das obras.
A Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC) diz que, em geral, não tem acontecido atrasos significativos porque o remanejamento é comum nos canteiros de obras, assim como o empregado ser polivalente.
Neste momento, muitas empresas de construção têm, também, invertido o cronograma do empreendimento para não perder tempo.
Produção menor na indústria
Os afastamentos por conta da Ômicron ainda estão reduzindo a produção do setor metal mecânico e interrompendo linhas de produção na indústria têxtil.
Erica Melo, presidente do Sindicato das Indústrias Mecânicas e de Material Elétrico do Município do Rio de Janeiro(Simme-RJ), pontua que as faltas ao trabalho pioram a desaceleração que a indústria já vinha enfrentando nos últimos meses.
De acordo com ela, funcionários têm sido realocados para compensar os desfalques, e muitas companhias já adotaram protocolos de emergência para acompanhar a evolução dos casos dentro da equipe.
— Com menos pessoas trabalhando, as empresas sofrem com os atrasos nas entregas devido à falta de pessoal — afirma.
No setor têxtil, 40% infectados
Fábricas de confecções também recorrem às contratações temporárias e adaptações internas — na medida do possível —, segundo o presidente da Associação Brasileira da Indústria Têxtil de Confecção (Abit), Fernando Pimentel.
— Mesmo quando há um percentual pequeno de casos, a empresa pode ter uma seção toda prejudicada, e isso cria uma barreira para que a produção flua normalmente.
Um relatório da associação divulgado com exclusividade para o GLOBO, mostra que 40% das empresas registraram casos de Covid-19 entre os funcionários em 30 dias.
Entre essas, mais da metade opera com até 10% a menos da equipe e 30% com um afastamento na faixa de 11 a 20% de toda sua força de trabalho. A pesquisa foi realizada entre os dias 26 de janeiro e 1 de fevereiro de 2022, com 356 empresas do setor.
Contratação e temporários para reduzir impacto
As áreas da saúde e de serviços, intensivas em mão de obra e marcadas por atividades presenciais, são outras bastante comprometidas pelas licenças médicas.
No Hospital Unimed-Rio, somente em janeiro, 382 colaboradores precisaram faltar ao trabalho devido à Covid-19. Para mitigar o impacto na rotina, a empresa contratou temporários e trouxe auxílio de uma empresa terceirizada.
— Isso com certeza tem afetado a dinâmica da instituição, desde preocupações com os nossos colaboradores afastados, até o trabalho para a complementação das escalas — afirma Gisele Pontes, coordenadora de gente e gestão da Unimed-Rio Empreendimentos Médicos e Hospitalares.
O comércio, que depende muito do contato presencial, é outra área duramente castigada com o recrudescimento da pandemia. Com isso, fora o reforço na folha de pagamento com extras, o prejuízo pode vir das demandas não atendidas porque falta braço.
Os supermercados Prezunic, por exemplo, além de realizar contratações temporárias e remanejar os profissionais, teve que suspender temporariamente a entrega expressa do delivery como consequência do aumento de casos de Covid que atingiu a equipe.
Na empresa, por ora, estão funcionando as compras com entrega agendada, segundo eles, “visando manter a segurança de suas operações, saúde dos colaboradores e a qualidade do atendimento aos clientes”.
Nos bares e restaurantes, equipe mais exposta
Assim como o comércio, no setor de bares e restaurantes a equipe fica muito exposta à circulação de pessoas. O resultado, conforme um levantamento da Abrasel, é que entre 15 de dezembro e 15 de janeiro, 76% das empresas tiveram baixa, em média, de um quarto de seus funcionários.
Segundo Paulo Solmucci, presidente da associação que representa o grupo, as ausências diminuíram nas últimas semanas, no entanto, empresários sentem impacto no bolso agora.
— Nós tivemos custo adicional de, em média, 10% por conta de afastamento e extra.
Leandro Cantini Lopes, dono do CariôSushi, no Grajaú, zona Norte do Rio, mudou o esquema de escala dos seus empregados de maneira que eles não se encontrem nas trocas de turnos.
Também, adiantou na pandemia a compra que planejava de máquinas que automatizam a produção de algumas peças, diminuindo o contato manual com o alimento e entre a equipe. O investimento foi de R$ 200 mil.
— Vivemos um período de 10 dias que, por pouco, a operação não teve que ser fechada. Mas conseguimos repor a equipe com mão de obra temporária — conta Cantini.
Juliana Velloso, fundadora da Iogar, que presta serviços de consultoria a restaurantes, e especialista em gestão operacional, orienta que cada estabelecimento mantenha uma lista de colaboradores extras que possam trabalhar por diária.
— Caso a equipe esteja bastante afetada, a melhor orientação é trabalhar com o cardápio reduzido e facilitar ao máximo a execução da operação com poucos funcionários — complementa.