As chances de aprovação de uma reforma tributária neste ano aumentaram diante do protagonismo assumido pelo Congresso Nacional, que tirou das mãos do governo a condução de propostas como a Previdência e a unificação de tributos.
Essa é a avaliação feita por secretários de Fazenda de estados e municípios, que já se articulam para negociar com deputados federais e senadores alterações na proposta tributária que tramita atualmente no Congresso.
O objetivo é fortalecer o poder de governadores e prefeitos na gestão da arrecadação.
No fim de maio, a CCJ (Comissão de Constituição de Justiça) da Câmara aprovou a PEC (Proposta de Emenda à Constituição) 45/2019, de autoria do deputado Baleia Rossi (MDB-SP).
A base do projeto são trabalhos do CCiF (Centro de Cidadania Fiscal), comandado pelo economista Bernard Appy.
O governo federal não participou da elaboração do texto e não apresentou proposta alternativa até o momento. Já os secretários estaduais de Fazenda esperam chegar a um consenso em reunião marcada para o início de julho.
Entre as alterações que ganharam apoio está a concentração da arrecadação em um comitê gestor. Ele teria a presença apenas de estados e municípios, e não da União.
Outra mudança seria a criação de alíquotas diferenciadas para alguns setores.
Diante da possibilidade de o Ministério da Economia tentar aprovar uma reforma que unifique apenas tributos federais, os secretários avaliam ainda qual a melhor estratégia: insistir em um IBS (Imposto sobre Bens e Serviços) para todas as esferas de governo ou trabalhar apenas pela unificação do ICMS (estadual) e do ISS (municipal).
"A ideia é que a gente apresente uma emenda. Dificilmente teremos 100% [de apoio], mas devemos ter uma ampla maioria", afirmou Rafael Fonteles, presidente do Consefaz (Conselho Nacional de Secretários de Fazenda).
Ele é também secretário de Fazenda do Piauí e, na sexta-feira (14), participou de encontro sobre reforma tributária organizado pela organização social Comunitas.
"Um protagonismo maior é uma condição para o apoio dos estados. A maior parte desse IBS é ICMS e ISS. Eles [estados e municípios] é que repassariam a parte da União. É um projeto ousado, mas é uma das principais condições para apoiarmos a proposta."
Os secretários também tendem a propor três alíquotas com abrangência nacional, cada uma aplicada a um determinado grupo de bens e serviços. Isso seria definido pelo comitê gestor, sem participação federal.
A PEC em seu formato atual dá autonomia para prefeitos e governadores decidirem sua própria alíquota, mas de forma limitada e aplicada a todos os contribuintes da região.
Fonteles manifestou preocupação com a possibilidade já levantada pelo Ministério da Economia de excluir estados e municípios em uma reforma de iniciativa do governo.
Por isso, o grupo técnico do Consefaz elaborou duas propostas: um substitutivo à PEC 45 e outra que trata apenas da unificação de ICMS e ISS. A questão será debatida com representantes de prefeitos na próxima semana.
"A preferência da maioria dos secretários é um tributo amplo. Mas a União está dizendo que acha pouco provável", afirmou Fonteles.
Presente ao encontro, Appy disse que, tecnicamente, prefere um comitê gestor, chamado no projeto de Agência Tributária Nacional, com todos os governantes em pé de igualdade. Ele vê com preocupação a diferenciação de alíquotas entre setores, o que poderia gerar privilégios.
Para Appy, a instituição contribuiu para a proposta em tramitação, mas que agora a discussão será no Congresso. Ele está otimista. "Nunca vi um ambiente tão favorável para aprovar uma reforma tributária como agora."
A PEC 45 prevê converter cinco tributos (PIS, Cofins, IPI, ICMS e ISS) em um único, o IBS, cuja receita seria compartilhada entre União, estados e municípios. Com a mudança, o PIB (Produto Interno Bruto) poderia crescer 10% a mais em 15 anos, diz o CCiF.