Empresas em família crescem mais, mas rendem menos

Fonte: O tempo
24/10/2016
Gestão

Existe um ditado popular que diz “amigos, amigos, negócios à parte”, ou seja, não é aconselhável misturar amizade com dinheiro. Mas será que o mesmo vale para familiares? Dados de pesquisa do Boston Consulting Group (BCG) – empresa de consultoria de gestão com 85 escritórios em 48 países – mostram que, no Brasil, as empresas familiares de grande porte, com faturamento acima de US$ 500 milhões, crescem mais que as outras. No entanto, a rentabilidade é menor.

Esses empreendimentos em família têm uma participação expressiva no mercado, principalmente nos emergentes. Enquanto respondem, nos Estados Unidos e na Europa (Alemanha e França), respectivamente, por 33% e 40% do mercado, no Brasil e na Índia, a participação chega a 46% e 55%, respectivamente.

Advogado da Messano & da Mata Advogados e professor de direito empresarial do Ibmec/MG, Leonardo Messano afirma que o número de empresas familiares no Brasil chega a 90% do mercado, considerando todos os portes de empreendimentos. Segundo ele, cuja tese de mestrado aborda o tema, estudos indicam o número.

De acordo com o BCG, as empresas familiares apresentam crescimento de 21%, enquanto empresas de outro tipo crescem 18%. Já no que se refere à rentabilidade, a situação é diferente: 8% nas não-familiares contra 5% nas familiares.

Sócio do BCG no Brasil, Christian Orglmeister ressalta que a empresa familiar tem como característica o traço do empreendedor que a começou. “São geralmente mais dispostas a abraçar novas oportunidades e lançarem-se em novos negócios. Por estarem também cientes de que o negócio deve crescer para fazer frente ao ritmo do crescimento da família, de geração em geração, apreciam mais o crescimento”, diz.

Profissionalização. Para Messano, as empresas familiares têm um ritmo de crescimento maior no Brasil do que as demais modalidades de negócio em razão do aumento da profissionalização da gestão que vem ocorrendo nos últimos anos.

Outro ponto positivo dessas empresas, que ajuda no crescimento, na avaliação do especialista, é a agilidade na tomada de decisões. “A dedicação, por ser uma empresa da família, tende a ser maior”, observa ele.

Já a rentabilidade menor, que foi apontada na pesquisa tanto no Brasil quanto nos demais mercados emergentes, tem, para Mossano, relação com as dificuldades impostas. “No caso do Brasil, há problemas de infraestrutura e capital caro, já que os juros são altos. Não acho que a rentabilidade seja menor por causa de má administração, o que não seria problema exclusivo das empresas familiares. Aliás, há vários exemplos de empresas familiares sólidas no mercado”, explica Messano.

Orglmeister tem outra explicação. Para ele, algumas firmas tomam a decisão consciente de se dividir ou ainda criar novas unidades, para dar oportunidade de empreender a novos membros de outras gerações. “Ao optarem por crescer mais rapidamente, estão dispostas a sacrificar um pouco a lucratividade”, analisa.

Diferença. Nos mercados desenvolvidos, o envolvimento familiar, no geral, diminui ao longo do tempo, conforme levantamento do Boston Consulting Group.

‘Decisões são mais rápidas’

A agilidade é um dos diferenciais de uma empresa familiar, segundo o sócio-diretor da Krug Bier, Herwig Gangl. Ele trabalha com os dois filhos, Matthias e Lukas, além do sobrinho Alexandre Bruzzi.

Para ele, a ligação numa empresa familiar é mais intensa. “Os assuntos relativos aos negócios não terminam no horário do expediente. É por isso que as decisões são mais analisadas e rápidas”, observa.

DEDICAÇÃO

Ser dono gera compromisso, diz empresário
O comprometimento com a empresa é maior quando o profissional é um dos donos, segundo o sócio-diretor da Krug Bier, Herwing Gangl. “A empresa não é um emprego, a empresa é dele. O sentimento de propriedade faz diferença na dedicação ao trabalho”, explica ele.

Para Gangl, o dado da pesquisa da Boston Consulting Group (BCG) que mostra que as empresas familiares crescem mais rápido é condizente com a realidade, em especial, com empreendimentos de pequeno e médio portes.

“Nas grandes, acho que a situação é diferente. A administração se torna mais complexa, a estrutura tem que ser maior e acaba envolvendo mais profissionais de fora da família. É uma outra situação”, observa o empreendedor.
 

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