Com o avanço do desemprego, o número de trabalhadores por conta própria disparou durante o último ano e já superou os 23 milhões no Brasil. A renda do grupo, por outro lado, caiu 5,4% em 2015.
O crescimento se deve, principalmente, à queda expressiva dos postos com carteira assinada nos últimos meses, explica Cimar Azeredo, coordenador de trabalho do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). "As pessoas estão usando o fundo de garantia, o seguro-desemprego e outros benefícios para criar o seu próprio negócio", disse.
A última Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNAD) mensal, realizada pelo IBGE, mostra que, em um ano, houve aumento de 6,1% na quantidade de empreendimentos que foram abertos sem funcionários, contando apenas com o trabalho de um ou mais sócios. No trimestre encerrado em janeiro de 2016, a situação era vivida por 23,096 milhões de pessoas, ante 21,768 milhões de trabalhadores em igual período de 2015.
Segundo Azeredo, os novos negócios são, em sua maioria, de pequeno porte e fazem parte do setor informal. "É o caso da mulher que trabalhava como secretária, perdeu o emprego e agora vende doces na rua", exemplifica.
Ainda que, por um lado, a criação de novos empreendimentos minimize um aumento maior do desemprego no Brasil, a perda de segurança na família causada pelo corte de postos com carteira assinada tem o efeito contrário.
"Os membros da família de alguém que deixou um emprego registrado e abriu um novo negócio passam a procurar emprego para complementar a renda familiar, dar mais estabilidade ou ajudar no pagamento de planos de saúde. Esse movimento de procura contribui para o aumento do desemprego", diz Azeredo.
Já José Amato Balian, coordenador da Incubadora de Negócios da ESPM, conta que a principal dificuldade dos novos empreendedores é transformar serviços pequenos, "como uma barraquinha de cachorro quente ou o atendimento como manicure", em um negócio maior.
"É necessário ter uma noção de marketing, de produção, de divulgação, que muita gente não tem", diz Balian. "Muitos desses novos empreendedores consomem todo o lucro e não investem, o que torna mais difícil o crescimento", complementa o especialista.
Balian afirma também que o segredo para prosperar "está em encontrar um bom nicho, com um bom mercado, onde seja possível cobrar um pouco mais e, assim, ampliar o tamanho do empreendimento".
Os especialistas entrevistados acreditam que o número de trabalhadores por conta deve continuar crescendo se o desenho econômico não se alterar. "Mas, se o mercado se aquecer, é possível que muita gente prefira voltar ao emprego com carteira", diz Balian.
Rendimento menor
A entrada de novos personagens no grupo do 'conta própria' reduziu os ganhos médios da ocupação no ano passado.
Na comparação entre o último trimestre de 2015 e igual período de 2014, houve recuo de 5,4% no rendimento mensal dos empreendedores em carreira solo. O valor diminuiu de R$ 1.549 para R$ 1.465.
"Isso acontece porque os novos negócios, em geral, tem receita menor do que aqueles que existiam antes. Por isso, a média para o grupo diminui", considerou Cimar Azeredo.
Por outro lado, o baixo rendimento da maioria dos trabalhadores por conta permite que estes se cadastrem como microempreendedor individual (MEI). O programa do governo, que conta com mais de cinco milhões de inscritos, procura estimular a formalidade ao permitir menor pagamento de tributos.
"Quando o negócio tem rendimento de até R$ 5 mil por mês, é possível fazer parte do MEI e ter acesso a benefícios de um trabalhador formal, como a aposentadoria", acrescenta José Amato Balian.
De acordo com a Serasa Experian, 137.301 novos MEI foram cadastrados em janeiro deste ano, alta de 15% na comparação com o primeiro mês do ano passado.
Formais em queda
Em situação oposta à dos conta própria, o número de trabalhadores no setor privado com carteira assinada caiu 3,6% (o equivalente a 1,3 milhão de pessoas) na comparação entre o trimestres encerrados em janeiro de 2016 e 2015, de acordo com a PNAD.
A quantidade de pessoas empregadas no setor privado sem carteira assinada também diminuiu 5,9% (614 mil pessoas). Também houve queda, de 1,9% (218 mil pessoas), no número de trabalhadores do setor público.
Já o rendimento teve leve queda para trabalhadores do setor privado com carteira assinada (-0,5%) e aumentos pouco expressivos para trabalhadores sem carteira assinada (1,8%) e funcionários do setor público (0,6%).