O banco Credit Suisse usou 123 episódios de recessões econômicas similares a enfrentada pelo Brasil atualmente para elaborar um estudo a cerca do impacto que a crise terá no mercado de trabalho nos próximos anos.
A conclusão desse estudo não é animadora: se a economia brasileira se comportar da mesma forma que outras 37 nações que passaram por recessão nas últimas décadas, o desemprego só deve voltar ao nível pré-crise (de 6,5% em 2014) no 3º trimestre de 2022.
Em 2017, de acordo com a Pnad Contínua (indicador medido pelo IBGE), as taxas de desemprego no país estão na casa dos 13%.
Portanto, seriam necessários cinco anos para o Brasil se recuperasse da crise, ao menos em termos de geração de emprego.
Para chegar a esse resultado, a instituição financeira levou em conta um crescimento econômico hipotético de 2% a partir de 2018. Já em cálculos mais otimistas, com a economia crescendo 3% ou 4% ao ano, a taxa de 6,5% seria alcançada no 1º trimestre de 2021 ou no 3º trimestre de 2020, respectivamente.
Palavra- chave: PIB
Analisando mais de 120 casos dos últimos anos, o banco concluiu também que o Produto Interno Bruto (PIB) se recupera antes de acontecer alguma reação no mercado.
Ao menos foi isso o que aconteceu em 50 dos casos estudados, sendo que o PIB precisou de, em média, sete trimestres para voltar ao nível pré-crise, enquanto que o desemprego levou 9 trimestres para chegar ao patamar anterior a recessão.
Porém, nos casos de recessão profunda, como a que encontramos no Brasil, a recuperação foi mais demorada: 15 trimestres para o PIB e 17 para o desemprego.
Entretanto, esses são projeções mínimas, conforme destaca o economista Leonardo Fonseca, da equipe do Credit Suisse, uma vez que, nesses 50 países o crescimento foi forte o suficiente para permitir a queda da taxa de desemprego.
No Brasil, a estimativa é que o PIB precise de um crescimento acima de 1,7% por ano para que a taxa de desemprego comece a recuar.
“Se a economia do país crescer muito perto desse número, a queda do desemprego pode demorar muito. Para que ele caia mais rápido, seria preciso crescer perto de 3% ou 4% ao ano“, ressalta Fonseca.
Em outros 12 casos, tanto o PIB quanto o desemprego não conseguiram voltar ao nível anterior à crise. Já em 59 episódios, o Produto Interno Bruto voltou “ao normal”, mas a taxa de desemprego não.
Demais elementos
Além disso, há outros elementos que podem interferir no tempo de recuperação como, por exemplo, o trauma da recessão, que pode causar mudanças permanentes.
Essa situação é chamada na economia de histerese – um termo da física para classificar o fenômeno de materiais que conservam propriedades mesmo sem o estimulo que as gerou.
Alguns estudos já apontaram que trabalhadores demitidos, ou que não conseguiram emprego durante períodos de crise, têm sua qualificação e rendimento afetados pelo resto da vida, reduzindo a eficiência geral da economia. Ou seja, mesmo após passado os efeitos de uma recessão, alguns resquícios podem permanecer por tempo indeterminado.