O setor de serviços concentra boa parte dos empreendimentos que demandam pouco ou nenhum investimento inicial. São os negócios que não precisam de equipamentos ou sede, ou seja, podem ser iniciados de casa.
O que não quer dizer que exijam menos empenho dos fundadores, pelo contrário.
“Muitos desses negócios começam com pouquíssimo capital e realmente decolam. Mas, em função do alto grau de improviso, também são mais frágeis e estão sujeitos a uma taxa de mortalidade maior”, diz Enio Pinto, gerente nacional de relacionamento com o cliente do Sebrae.
Segundo ele, aproximadamente metade das 19 milhões de empresas brasileiras não tem nenhum colaborador. Ou seja, o sucesso do negócio depende apenas do desempenho do empreendedor, que precisa investir no aprimoramento pessoal e profissional.
É o que tem feito Luciana Elias, 49, fundadora da doceria Les Quitutes. Quando decidiu se profissionalizar na produção de doces e bolos, em 2016, ela não precisou investir um tostão. Começou na cozinha de casa, onde está até hoje, e já tinha os equipamentos necessários.
Em compensação, Luciana já gastou cerca de R$ 9.000 em cursos de confeitaria.
Trabalhar em casa não impediu a doceira de crescer e conquistar clientes corporativos. A divulgação nas redes sociais foi tão eficiente que gerou um convite para competir no programa “Que Seja Doce”, do canal pago GNT.
Ela não pensa em investir em outro espaço. Trabalhar na sua cozinha a ajuda a manter os custos sob controle e praticar preços competitivos.
Essa é também a receita de Viviane Meneses, 40, fundadora da Celulose. Assim que a quarentena começou, ela aproveitou a experiência acumulada em agências de marketing para empreender.
Em sociedade com a filha Isabelle Cardoso, 18, Viviane investiu R$ 4.000 em uma impressora industrial de etiquetas, mais R$ 2.000 em cursos para operar o equipamento.
“Vi muita gente se lançando no mercado e logo pensei em oferecer algo que deixasse suas embalagens com uma cara profissional. Logo foram surgindo outras demandas”, diz.
A dupla diversificou os serviços e passou a oferecer criação de logotipos e assessoria de postagens em redes sociais.
Mas elas notaram que muitos clientes tinham fotos feias, então decidiram investir R$ 700 em uma câmera usada, com miniestúdio móvel, para produzir fotos e vídeos.
O faturamento, que não passou de R$ 500 mensais nos primeiros meses, chegou a R$ 4.000 em agosto.
Embora o setor de serviços concentre os empreendimentos de baixo investimento, também é possível começar no comércio gastando pouco.
Victória Alonso, 26, e Zoe Povoa, 25, fundaram o ecommerce Ozllo, em julho de 2018, com apenas R$ 10 mil.
As duas já mantinham um perfil no Instagram, por meio do qual vendiam roupas e acessórios de luxo de segunda mão. Quando atingiram 10 mil seguidores, acharam que era hora de migrar para a web.
“Não havia ferramentas de compra no Instagram e todas as operações de venda eram manuais.
Lançamos o ecommerce para automatizar o sistema”, diz Victória.
O capital foi investido no aluguel de um galpão para o estoque (as peças são cedidas em consignação) e na produção de fotos para o site.
De 2018 para cá, a empresa tornou-se um market place que também negocia peças de outlets de grandes marcas e está presente em 17 estados.
A Ozllo já recebeu R$ 1 milhão de aportes de investidores e registrou um aumento de 631% no faturamento de fevereiro a julho deste ano.
Histórias como a da Ozllo têm estimulado o crescimento do mercado de ecommerce. Segundo a Associação Brasileira de Comércio Eletrônico (Abcomm), 150 mil lojas virtuais foram inauguradas desde o começo da pandemia.
Os setores que mais atraíram os empreendedores foram moda, alimentos e serviços.
Para Rodrigo Bandeira, 44, vice-presidente da Abcomm, o segmento tem tudo para continuar em alta.
“Dois milhões de usuários compraram pela primeira vez em lojas online de março para cá. E quatro milhões de pessoas usaram aplicativos de delivery ou serviços online pela primeira vez.”